Publicado por: Ricardo Shimosakai | 23/11/2010

Cadeirantes desenvolvem os seus próprios roteiros


*Esta matéria foi publicada no Jornal O Estado de São Paulo, Caderno Vida, página A22, em 11 de novembro de 2010. Foi escrita por Adriana Gisele De Matos Milani, aluna da Universidade São Judas Tadeu

Na época em que a publicitária Julie Nakayama, hoje com 24 anos, começou a se aventurar por diversos lugares dentro e fora do Brasil era difícil encontrar roteiros de viagens acessíveis para pessoas com deficiência. Cadeirante por conta de uma mal formação no nascimento, ela sempre encontrava obstáculos de acesso nos roteiros de viagem que fez durante a infância. “A maior dificuldade sempre foram os passeios de ônibus, não havia transporte adaptado, nem acessibilidade os locais visitados em grupo – eles não pensavam em receber um turista com deficiência”.

Relatos como o de Julie costumam ser parecidos aos de outros turistas e executivos com deficiência. Pensando nesta demanda ainda nova para muitas empresas, a Adventure Sport Fair, um dos maiores eventos de turismo e aventura da America Latina, trouxe em setembro uma novidade para o público: o Fórum Interamericano de Turismo Sustentável (FITS), com o objetivo de discutir medidas sócio ambientais, subsidiando, inclusive, a participação na feira de entidades que representam o segmento de pessoas com deficiência.

Ricardo Shimosakai esteve no evento este ano. Graduado em Turismo pela Universidade Anhembi Morumbi e paraplégico desde o tiro que o atingiu em um sequestro relâmpago, ele é um dos criadores da ONG Turismo Adaptado e responsável por ações em diversos campos envolvendo o turismo e a inclusão. “Existem diferentes tipos de deficiência e necessidades específicas, gradativamente e de forma adequada, vamos entrelaçando todos esses pontos para que o turismo seja uma atividade que respeite a diversidade do ambiente e das pessoas”.

Shimosakai realiza trabalho de consultoria e prepara roteiros e pacotes turísticos acessíveis,além de comercializar essas viagens em parcerias com agências que trabalham com turismo acessível no exterior. No Brasil, Bonito, cidade do Mato Grosso do Sul, é um exemplo dos trabalhos nos quais que ele esteve envolvido. Além de ter sido adaptada para receber visitantes com deficiência, o lugar passou a estabelecer regras para preservação das riquezas naturais. Hoje, a cidade é referência na área de ecoturismo sustentável, segmento que, anualmente, cresce cerca de 10% no País. Nos EUA, só o mercado de turismo acessível movimenta cerca de14 bilhões de dólares por ano.

“Por aqui, este tipo de atividade ainda é pouco explorada e acredito que até para o Ministério do Turismo isso é novo”, diz a fonoaudióloga cadeirante Andrea Schwarz, uma das fundadoras da iSocial, consultoria especializada na inclusão da pessoa com deficiência. Um dos focos da iniciativa é a promoção do turismo acessível. Entre outros trabalhos figura a produção do primeiro roteiro turístico e cultural para pessoas com deficiência. O Guia Brasil Para Todos tem 320 páginas com informações de 10 capitais brasileiras, levando em consideração a base na localização geográfica e as condições de acessibilidade. Sempre preservando os princípios expressos na Convenção Interamericana de Deficientes (1999), Declaração Internacional de Montreal Sobre Inclusão (2001), Declaração de Caracas (2002) e da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006). Informações: www.turismocentrooestepaulista.com.br


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